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PARTE 3
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Nesta mina não havia heróis como nas lendas... ninguém tentava nada que pudesse sequer irritar o simples rapaz que nos trazia comida quanto mais uma rebelião contra os guardas que levavam os mais velhos em troca por mais novos a cada punhado de dias... nunca algum deles voltou... mas também não me parece que tenham ganho um bilhete para o mundo lá fora.
Mais um dia igual ao anterior...
e ao anterior a esse...
e aos 30 anteriores a esse...
e aos 300 anteriores a esse...
...
Olho para a pedra...nada, completamente obscurecida pela sombra da parede, não era surpresa o que vinha aí.
Um Silêncio ensurdecedor instala-se na mina.
Começam-se a ouvir passos pesados e o roçar de luvas de ferro contra armaduras... Alinhámo-nos como sempre cada um em frente ao seu monte de metal na esperança que fosse hoje que tivéssemos o mais minúsculo pedaço de carne em vez de todo o pão que sempre era distribuido.
Olhei em volta... não, também não era hoje que receberia mais que os outros.
"Talvez devesse praticar menos e minar mais..." - apesar da minha forte constituição física ganha nestes anos a trabalhar na mina não podia continuar a alimentar os meus músculos apenas com exercício e pão - mentalmente comecei a estabelecer uma maneira de juntar o treino com o trabalho...
Procurei pelo corpo do guarda que se tinha deixado levar por toda a doença e desepero deste lugar. Sem surpresas, encontrei-o no mesmo sitio onde ele caiu pela última vez. "O amor pelos colegas mortos deveria ser tanto como pelos escravos vivos" - pensei - ele tivera de ser enterrado por nós sob a sua armadura no local mais próximo que encontrámos. Aproximei-me e retirei a luva de ferro na esperança que me servisse, ainda inscrita com o nome do soldado "Porter".
Vários olhares de medo se cruzaram com o meu sorriso...
Parecia que tinha sido feita para mim.
Apesar de mais lento que com a picareta, mantive a minha ideia de treinar enquanto trabalhava e a luva de ferro provou ser a fonte de sustento mais saudável para não descurar o treino.
Dia após dia comecei a aprimorar as minhas técnicas tanto de trabalho como de combate: espaço de prática não faltava, desde minar galerias inteiras a pequenas paredes mais profundas e provavelmente seria impossível ter mais tempo livre para dedicar ao trabalho, o que fez com que de certo modo não estivesse tão desagradado com isto como os outros rapazes da mina.
Felizmente nada do que eles diziam sobre os que vão e não voltam me preocupava...
...Até ao dia em que chegou a minha vez.
Estava a praticar treino de armas com os cabos retirados de uma picareta (que provavelmente já tinha dado mais do que devia a esta mina), quando entram mais rapazes vendados pela cela principal.
"Tu com o toco de madeira, é a tua vez de ir"
Pousei o pau e a luva e dirigi-me ao grupo de homens encapuzados "até qualquer dia" foi o que leram nos meus olhos os meus colegas, mal sabendo que a minha tristeza residia na perda do meu local de treino.
Outra venda...
Mais correntes ...
Segui o som das armaduras tropeçando uma ou duas vezes quando os passos se dividiam e os nossos mestres não nos diziam quem era suposto seguirmos, questionava-me sobre o meu destino, seria ele tão curto como o do insecto que acabei de calcar? Espero bem que não, sentiriam tanto a minha falta como a dele e eu queria tudo menos isso.
...Uma cela fecha-se atrás de nós sob o barulho de chaves a cair a nossos pés...
Apresso-me a pegar nelas e a libertar-me das correntes que me prendiam bem como da venda que me cegava, a visão não melhorou muito, estava numa espécie de túnel sem qualquer hipótese de visão exceptuando uma luz cintilante no fundo...
...O Sol...
...Iria eu vê-lo uma vez mais?
Corro na única direcção imaginável de correr, olhos semi-cerrados...
...Luz...
Como os meus olhos não estavam habituados, chego ao fim do túnel, ainda sem a total noção do que via, pareceu que me encontrava na base demasiado lisa de um vale demasiado pequeno para o ser...
...isso...
... e a enchente interminável de gritos a toda a minha volta...
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