sexta-feira, 10 de junho de 2011

Histórias de Outros tempos

Clique aqui para ler a Parte 2 
Como prometido vou postar outro texto meu escrito em outros tempos. Vou pondo por partes para não ficar muito extenso.
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"Escondam-no, ninguém pode descobrir"
   
Quando estas palavras são os primeiros pedaços do mundo a entrar na tua vida, nunca podes esperar algo normal. Mas quem era eu para compreender as intenções de quem andava cá fora quando até respirar era uma actividade que precisava de treino?
   
    Treino...treino...foi ele a minha escola, nunca cheguei a perceber se nunca lá pus os pés por vontade minha ou de minha mãe, de qualquer das maneiras era necessário um homem naquela casa e eu era o mais próximo que se arranjava.

    Pequeno e magro, quase parecia um dos corpos que encontrávamos várias vezes pelas redondezas, "precisámos de lenha" dizia-me ela "cuidado com os ladinos" acrescentava, não por temer que eu não volte mas sim pelo frio que se instaurava na sala da velha casa.

    Os ladinos... não eram eles a fonte do meu medo,(antes fossem pois não havia nada em mim que lhes pudesse despertar algum interesse) aliás, não eram os vivos que me alarmavam , mas todos os corpos espalhados pela floresta negra fora, estes achados não eram coisa rara e era isso que me atormentava: " se um dia alguém passa por cá e sou eu...ali deitado imóvel no chão", era essa a minha tormenta, ser apenas "mais um" descartado como lixo, sem ter deixado sequer uma ténue marca que pudesse ser vista por alguém em alguma das eras vindouras.

    "Achas que trouxeste lenha suficiente? Vai buscar mais para depois jantarmos " foi o mais parecido que eu tive com um feliz aniversário naquele dia; aliás, naquela década ...

    Doze anos tinha eu contado desde que recebera a minha única prenda, um pequeno fio adornado com uma pouco maior figura dourada em forma de G, nunca soube muito bem o significado dele (se é que o possuía), talvez uma bugiganga barata ou algo encontrado num recanto da floresta, mas não quis saber, guardei-o como o simbolo de que alguém, a certa altura teria pensado em mim...

    Muito bem fiz eu pois esse momento não se voltara a repetir... a não ser que o ir buscar e cortar lenha para vender contasse como símbolo de amor maternal, eu mais parecia um escravo do que um filho.

    Lá ia eu outra vez, a lenha não se ia vender sozinha e a comida não caía magicamente no nosso prato, deambulei pela floresta em direção ao monte de tábuas que tinha já deixado cortadas da última viagem; pois apesar de força não me faltar os meus braços não possuíam espaço para mais.

    "Senhor essa lenha será sua por um preço justo, entretanto peço-lhe que a pouse"

    "A tua mãe não te ensinou a não andar pela floresta sozinho? Aconselhava-te a ires ter com ela"

    Nunca fui muito de pensar, era um acto que só me atrasava as acções, no entanto  não teria sido má ideia naquela altura antes de avançar em carga contra o desconhecido... dei dois passos atrás olhando para ele no chão

    "Volto a pedir-lhe que se afaste da lenha, enquanto que eu lá me arranjarei minha mãe precisa que eu a venda para sobreviver a este inverno"

    Esperando que ele tivesse percebido a ideia aguardei que se erguesse, tinha avaliado a força dele aquando do embate e não teria nada com que me preocupar... o que rapidamente se mostrou errado... quando ele começa a remexer na neve à procura de algum objecto caído, todas as minhas esperanças de ganhar aquela batalha derreteram como a neve sobre a qual estávamos tal era o calor do confronto... ele ia desembainhar a espada...

    Eu não tinha qualquer tipo de arma à mão e apesar de todo o meu treino em batalha nunca conseguiria vencer alguém armado se ele soubesse o que estava a fazer.
   
          A espada não se moveu...
  
          "O frio... às vezes engrossa as espadas"

           Não me parece que ele tenha ouvido isto pois eu não lhe queria dar tempo de desembainhar propriamente o fruto da minha derrota.
   
           Um rapaz a lançar-se sobre um homem com o dobro do seu tamanho...
                                       
                                                   ...a imobilizá-lo no chão ...
                                            e...
                                                           de repente ...
                uma grande pancada...
       ...   
    Acordei, não fazia ideia onde estava mas o cheiro não me agradava.

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